A revolução tecnológica não para, ao contrário, está cada vez mais acelerada, afetando nossa rotina, nosso trabalho e mudando comportamentos. O metaverso e o NFT no turismo são exemplos dessa transformação e, ainda que muitos duvidem, é uma ferramenta que já impacta o nosso setor.

O metaverso surge da junção de três elementos: a convergência de novas tecnologias de alta capacidade, a evolução do marketing e o comportamento social das novas gerações. Vale ressaltar que o metaverso não é um lugar, é uma solução tecnológica, que combina aspectos das redes sociais e tecnologias como a realidade virtual, realidade aumentada e criptomoedas, que satisfaz novas necessidades e novos comportamentos sociais.

Interagir com diversas pessoas, estudar, trabalhar e agitar a vida social seriam ações possíveis através de bonecos virtuais customizados, também chamados de avatares 3D. O Metaverso vai ampliar a experiência de viagem, permitindo visitar um destino ou experimentar um hotel, suas instalações e serviços sem sair de casa. Atualmente isso já é possível, com a Realidade Virtual, mas os recursos do Metaverso permitirão uma experiência muito mais imersiva, com direito a sensações e interações, onde o usuário é o protagonista dessa imersão.

Há atualmente diversas ações e projetos turísticos sendo desenvolvidos no metaverso, tanto nacionais quanto internacionais. Com a descentralização da internet, caracterizada pela web 3.0, todos os usuários passam a criar, operar e possuir essa rede que até então era monopolizada por grandes empresas. As mudanças geradas na sociedade mostram que daqui em diante a jornada do consumidor será diferente, necessitando de adaptação e novas estratégias do mercado.

 

NFT e o Turismo

Antes de nos aprofundarmos neste assunto, é importante ter em mente os conceitos mais utilizados dentro desta nova realidade, que possui termos específicos e tecnológicos:

  • NFT, ou non fungible token, se refere a um certificado digital registrado no blockchain em que concede a propriedade de produtos digitais à alguém. Trata-se de um novo mercado de venda, que transmite a originalidade e exclusividade de bens digitais. Dentro do NFT há tokens únicos e intransferíveis, e tokens que servem para todos.

Em termos de comparação, uma passagem de avião seria um token único e intransferível, pois pertence somente a um cliente específico e que e pode utilizá-lo uma vez. Já as moedas digitais são recursos que podem ser vendidos e transferidos a outras pessoas.

  • Blockchain: Estes tokens estão inseridos no blockchain, um sistema de vários blocks ligados por uma corrente e que armazenam as informações. Todas as transações realizadas no metaverso se dão pelo uso das criptomoedas, moedas digitais, cenário que explica a sua valorização crescente atual.

Em um momento transcendental para o turismo, é importante que as empresas estejam atentas a essa revolução tecnológica e aos impactos que trará ao setor, focando na conectividade e sustentabilidade, sendo esses fatores determinantes para seu posicionamento de mercado, visto que será mais competitivo, digital e exigente.

 

O Metaverso no Turismo

Crescendo rapidamente e com força, o metaverso pode ser definido como um ambiente onde se é possível replicar a sua vida, sua rotina, seus interesses e relações no mundo digital usando um device de visão ou a tela do celular ou notebook, por exemplo. Em uma sociedade que busca maior inclusão e aceitação das diferenças, o metaverso torna-se o ambiente adequado para isso, além de focar na experiência proporcionada.

No entanto, há fatores por trás desse universo digital que podem ser as potenciais razões para sua criação e utilização:

  • Podemos ser o desejo dos outros, quem somos, quem admiramos ou gostaríamos de ser;
  • Podemos criar uma outra vida;
  • Podemos modificar aspectos físicos em que somos insatisfeitos

Devido à representação das pessoas por meio de avatares customizáveis, cada característica escolhida pelo usuário para representação de si mesmo poderá ser verdadeira ou não. A distorção da realidade nos mostra que no metaverso podemos ir além e utilizar nossa imaginação de forma participativa, não somente na construção do avatar, mas também no decorrer da realidade criada digitalmente, bem como as relações estabelecidas.

A ferramenta Unreal, por exemplo, nos mostra como a tecnologia está avançada, criando avatares tão reais a ponto de parecerem uma foto das pessoas. Os traços, tipo de pele, tom do cabelo, olheiras, marcas de expressão.. tudo é delicadamente pensado para que os Meta Humanos estejam o mais próximo da realidade possível.

 

Avatares criados pela Unreal Engine

 

O nível de detalhe e realidade mostrados pela empresa superam todos os outros avatares já vistos anteriormente. Dessa forma, avatares mais sofisticados criam maior identificação com o público, nos mostrando novamente a replicação da nossa vida real dentro do metaverso.

Dentre outras características desse novo universo, temos:

  • Local de retorno à imaginação
  • Ambiente infinito, contínuo e de permanente existência
  • Reativo e criativo: as reações ocorrem de “bate e pronto”, a interação e o engajamento são significantes e muito além de somente consumir algo
  • Social e interoperável: propício para conhecer pessoas e criar comunidades, possuindo experiências e obtendo propriedades que navegam em todas as plataformas

Há também tendências que estimulam o crescimento e desenvolvimento do metaverso. O constante uso de redes sociais já nos traz a sensação de estarmos imersos em outra realidade diante de vídeos, fotos e recursos para interação. A experiência proporcionada, juntamente com o desenvolvimento do 5G facilitam a entrada da sociedade no mundo digital.

Junto a isso, podemos citar também aspectos como a pandemia, que nos gerou o receio de contato físico, expansão das criptomoedas, busca pela sustentabilidade e inclusão, visando a diminuição de emissão de carbono e consumo de matérias primas.

Em um mundo mais inclusivo, onde todas as transações são feitas digitalmente, as pessoas podem ter o que quiserem. Os mundos serão intercambiáveis e a tendência imersiva acelera a dualidade inclusiva,  permitindo estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Como resultados emocionais que podemos obter, está a incapacidade de distinguir o mundo real do mundo virtual, pois a vida será uma só. Ou seja, dependendo da forma em que a tecnologia for utilizada, podemos obter benefícios ou malefícios, pois tudo será possível no metaverso.

 

O perfil do novo viajante 

 A convergência criada entre esses dois mundos chama a atenção para outro fator: a coleta de dados via Inteligência artificial e algoritmos. Partindo da web 3.0, a coleta de dados pelas empresas será muito maior, visto que além de informações básicas sobre nós, terão acesso também a características mais específicas, como aspectos físicos (como altura, peso..), tornando mais robusta a quantidade de informações utilizadas para traçar o perfil do público e segmentar a oferta.

Além disso, o público atual mais imerso no metaverso são os gamers. Cerca de 72% dos jogadores já estão dentro da nova realidade e essa parcela é composta por pessoas de 18 a 34 anos de idade, público que também consome viagens. Com isso, nota-se que o comportamento das pessoas no metaverso moldará uma nova forma de venda e consumo, transformando a jornada do consumidor e o comportamento das empresas.

Atualmente vemos exemplos de empresas que vêm desenvolvendo grandes projetos no metaverso no turismo, como por exemplo a Brown and Hudson. Focados na inovação sob medida para viagens, a empresa busca experiências imersivas à distância baseadas em pesquisas científicas e feitas através da realidade virtual. Com eles, a viagem no tempo é possível: seja uma viagem familiar de anos atrás ou acontecimentos sociais históricos, com a expertise que possuem temos de forma concreta o turismo no metaverso.

Não somente empresas internacionais estão apostando nas novas tecnologias, como também a Loumar Turismo, operadora situada em Foz do Iguaçu que lançou uma ação comercial no “Loumarveso”, metaverso criado por eles. Em Maio (2022), promoveram hotéis da região por meio de visitas feitas com ferramentas do metaverso, como videoconferência expandida e personalização de todo o ambiente, desde a decoração até o som espacial e formas de interação. Entenda melhor nessa Travel Talk, clicando aqui

Com exemplos reais e atuais, notamos como essas novas ferramentas e tecnologias estão próximas de nós, demonstrando a rápida expansão da web 3.0. E tudo isso se torna ainda mais real quando se observa o desenvolvimento de equipamentos para que os 5 sentidos sejam tão reais no metaverso quanto são na vida real:

  • O tato será sentido por meio de roupas especiais e hologramas que nos oferecem a sensação física do toque, como o Tesla Suit e a Haptx Glove.
  • A visão, assim como já utilizamos, será por óculos de realidade virtual que estão se tornando mais simples visualmente, porém muitos mais refinados em estrutura. Cita-se, por exemplo, o desenvolvimento dos óculos da Apple, que visam algo mais comum em aparência, leve e complexo.
  • Os cheiros, por sua vez, chegarão a nós por meio de máscaras faciais específicas ou sensores que possuem componentes químicos com milhares de combinações que, através de programadores digitais, liberam os aromas em momentos específicos.

Há pouco tempo estávamos preocupados em imaginar como seria o futuro do turismo pós pandemia. Quem diria que dois anos depois teríamos novos recursos extremamente tecnológicos para permitir que uma viagem digital aconteça com as mesmas sensações que temos no mundo físico? E como será o futuro do turismo?

 

Venda experiências turísticas

 Antes de se lançar no novo mercado digital, as empresas e seus gestores precisam adquirir conhecimento sobre este cenário. É preciso começar a buscar a informação e aprender a nova linguagem, entendendo os conceitos e definições. Após muito estudo, inicia-se o processo de tomada de decisão e desenvolvimento de ideias e projetos.

No turismo, não venderemos mais pacotes de viagem fechados, a partir de agora o foco é na experiência proporcionada ao viajante e as emoções geradas. Trata-se de uma forma de consumo memorável, muito mais intensa e inclusiva. Independente das limitações que existam, todos poderão viajar a qualquer momento e de qualquer lugar para qualquer destino.

Unindo o metaverso, os equipamentos criados e o conhecimento sobre a demanda, o turismo se beneficia das tecnologias criadas, abrindo espaço para novas ofertas e crescimento do setor no universo digital. Embora as marcas foquem em oferecer experiências mais autênticas e tecnológicas, será necessário de antemão, ter um propósito corporativo e realizar  rápida migração para o metaverso.

“A convergência de tecnologias vai criar uma excelente alternativa ao turismo físico, abrindo espaço para experiências mais inclusivas, acessíveis e imaginativas.”

Philippe Brown, fundador do Brown and Hudson.

 

O cliente passará a ter o poder total, pois todas as mudanças ocorridas geram também novas mentalidades, o que desafia as organizações a adaptar suas formas de atuação. Aqueles cuja adaptação for rápida, ficarão bem diante do mercado. Aqueles que não, terão maiores dificuldades.

Os destinos turísticos serão, portanto, mais autônomos, acessíveis e competitivos. Aliados às experiências e emoções, o turismo tradicional será aos poucos substituído. Inicia-se, então, uma nova forma de vender viagens, destinos, experiências e memórias.

 

O futuro do turismo

O metaverso permitirá que a experiência de viagem seja ampliada, independente do local onde esteja, a nova dimensão social conecta os dois mundos: o virtual se torna real e o mundo real, virtual. Através da tecnologia será possível imergir em destinos, produtos e serviços turísticos.

Essa viagem para outra realidade mostra como o Metaverso é um ambiente infinito e que não há limitações como em viagens físicas, visto que para acessá-lo e usufruir da ferramenta, será necessário ter acesso a tecnologia e, ao utilizar seus avatares, será possível viajar sem sair de casa, tornando-se algo viável para todos. Conhecer os destinos virtualmente será uma nova maneira de escolhê-los para a viagem presencial, explorando cada estabelecimento, atrativo e serviços oferecidos. O conhecimento prévio enriquecerá ainda mais a experiência do viajante.

Com a possibilidade de viajar em dois mundos distintos, um tipo de viagem complementa e traz benefícios que respaldam tanto no turismo físico quanto no digital. No virtual, no entanto, haverá ampla utilização de NFT’s, como por exemplo na venda de ingressos, shows, passagens aéreas, reservas de hotel, atrativos, entre outros.

A utilização de tokens também facilita a fidelização dos clientes, como em associações exclusivas, programas de recompensa e clubes. A venda de NFTs pode gerar muita divulgação e aumentar o posicionamento da indústria, destacando a criatividade e os valores perante os demais.

Os novos modelos de aquisição de propriedades, através dos tokens, também auxiliam a economia digital e empresas a venderem parte de seus imóveis. A indústria do turismo no metaverso possui potencial para aumentar o volume de reservas, o número de vendas de itens relacionados a viagens e impactar positivamente o turismo físico.

 

Impactos da tecnologia no turismo 

Embora o Metaverso traga inúmeras inovações ao turismo e seja capaz de alterar o comportamento do turista, a atividade “física/real” não será substituída, mas um segmento paralelo de turismo via realidade virtual será criado. Nestes ambientes virtuais sempre ativos, encontra-se um recurso capaz de instigar a vontade do turista e levá-lo a conhecer o destino no mundo real, como se fosse uma vitrine do que o espera.

É preciso que o setor esteja capacitado e antenado às novidades que estão por vir para que possam colher frutos positivos e saber lidar com os anseios do público. Em Benidorm, o primeiro Destino Turístico Inteligente certificado no mundo, também foi pioneiro no Metaverso, utilizando-o como ferramenta para promoção do local. O alvo deles, por sua vez, é a geração alfa: foco naqueles nascidos após 2010, imersos no digital.

O BenidormLand, nome dado ao Metaverso deste destino turístico, além de oferecer uma “amostra grátis” virtual da oferta turística do destino, também prevê a venda de NFTs de prédios emblemáticos da cidade, organização de eventos e reuniões, etc.

Cadeias hoteleiras como Marriot e Meliá já anunciaram iniciativas nesse sentido, buscando posicionar a marca no Metaverso e ampliar o leque de experiências aos seus clientes

Quanto ao mercado de trabalho, ao utilizar o Metaverso, seria possível que os funcionários desempenhassem suas funções de diferentes partes do mundo, sem a necessidade de estarem presentes fisicamente. Essa é uma forma de estabelecer novas conexões com pessoas através do espelhamento da vida real em plataformas digitais.  Podendo, assim, alterar a oferta de empregos e tornar os serviços mais automatizados. (Observação: aqui no Brasil o Carrefour já faz processos seletivos pelo Metaverso).

Contudo, para que o Metaverso no turismo seja amplamente utilizado como meio de divulgação da oferta, a sua adesão e implantação ainda necessitam do avanço de tecnologias, como o 5G. Uma vez que comece a ser utilizado, será possível desenvolver projetos imobiliários, obter uma internet mais aberta e imersiva, transformando assim a economia do turismo, as negociações e, claro, as interações sociais.

O que você achou dessa nova possibilidade de empreender e viajar? Acredita que o virtual substituirá o anseio de viajar no mundo real?

** Este artigo teve a colaboração de Letícia Rosa, uma turismóloga que adora comunicação.